De acordo com um estudo recente, Portugal ocupa o último lugar da lista entre os países europeus em termos de literacia financeira. Apenas uma fração da população possui o conhecimento necessário para navegar nas complexidades financeiras da vida moderna.
Na intricada tapeçaria da história de Portugal, fios de desafios económicos teceram uma narrativa que teve um impacto significativo na literacia financeira do país. Aprofundemos as razões históricas por detrás do défice de literacia financeira em Portugal:
Portugal tem resistido a turbulências económicas ao longo da sua história, marcada por períodos de instabilidade, crises financeiras e mudanças políticas. Estas convulsões deixaram muitas vezes a população confrontada com incertezas económicas, dificultando o desenvolvimento da literacia financeira.
A estrutura histórica do sistema educativo de Portugal pode ter contribuído para o défice de literacia financeira. Os currículos tradicionais centravam-se menos nas competências financeiras práticas, deixando as gerações com uma exposição limitada a conceitos financeiros essenciais.
As atitudes culturais em relação ao dinheiro e às questões financeiras podem desempenhar um papel fundamental. Em Portugal, uma preferência histórica por métodos tradicionais de poupança e uma percepção de complexidade em torno dos sistemas financeiros podem ter dissuadido o envolvimento activo na educação financeira.
Sabia que 19% dos portugueses têm um nível baixo de literacia financeira? E que apenas 11% têm um nível alto? Estas são algumas das conclusões do primeiro inquérito sobre a literacia financeira realizado nos 27 países da União Europeia (UE), onde foram entrevistados 26.139 cidadãos da UE (1.016 em Portugal) para avaliar conhecimentos e comportamentos financeiros.
16% dos inquiridos portugueses disseram ter um nível baixo de conhecimentos sobre assuntos financeiros, quando comparados com outros adultos do seu país. A mesma percentagem (16%) afirmou ter um nível de conhecimentos alto.
Confirmou-se que apenas 16% dos portugueses tinham um nível alto de conhecimentos. Porém, a percentagem de conhecimentos baixos mostrou-se superior! Na verdade, 28% dos inquiridos tiveram uma avaliação baixa! Este foi o 4.º pior resultado entre os 27 países da União Europeia, apenas superado pela Grécia (29%), pelo Chipre (30%) e pela Roménia (também 30%). A avaliação foi feita colocando cinco questões sobre temáticas financeiras. Entre elas, havia esta pergunta sobre inflação: "Imagine a seguinte situação. Vão dar-lhe um presente de 1.000€ dentro de um ano e, ao longo desse ano, a inflação mantém-se nos 2%. Daqui a um ano, com os 1.000€, será capaz de comprar: mais do que conseguiria comprar hoje? A mesma quantidade? Menos do que conseguiria comprar hoje?" Só 55% dos portugueses inquiridos acertaram na mesma: conseguiriam comprar menos do que hoje, devido à inflação!
Nos comportamentos, os portugueses mostraram melhores resultados: 69% conseguiram uma avaliação alta e apenas 8% tiveram uma avaliação baixa. De notar que os portugueses mostraram grande sensibilidade perante comportamentos financeiros importantes: 97% concordaram que, antes de comprar algo, ponderam cuidadosamente se podem fazê-lo; 86% afirmaram que monitorizam as suas despesas; 78% indicaram estabelecer objetivos financeiros a longo prazo e esforçar-se para atingi-los.
Se juntarmos conhecimentos e comportamentos, como ficamos? Não muito bem! Apenas 11% dos portugueses tinham um nível alto de literacia financeira, a percentagem mais baixa da UE, a par com a Letónia. 19% dos portugueses tinham ainda um nível baixo de literacia financeira!
45% dos portugueses afirmaram estar muito confortáveis e 20% confortáveis a usar serviços financeiros digitais. O produto financeiro que mais inquiridos portugueses (40%) tinham (ou tinham tido, nos últimos dois anos) era um seguro sem ser de vida (por exemplo, seguro habitação ou automóvel). Os produtos financeiros que menos portugueses (9%) tinham eram títulos cripto, incluindo criptomoedas. Se perdessem a sua principal fonte de rendimento, 30% dos portugueses disseram que aguentariam 6 meses ou mais a continuar a cobrir as suas despesas, sem pedir dinheiro emprestado ou mudar de casa. Porém, 21% afirmaram não ter poupanças de emergência! 23% não estavam nada confiantes de que iriam ter dinheiro suficiente para viver confortavelmente durante a reforma. 36% também não estavam muito confiantes. 40% dos portugueses mostraram-se confiantes e 6% muito confiantes no aconselhamento que recebem de bancos, seguradoras ou consultores financeiros sobre investimentos.